Vazio na Quarentena

Uma pintura (em processo).

Um Ser senta sozinho em seu quarto. No centro, uma vela-lamparina. É dito no Budismo Tibetano que o problema do Ser reside em não conseguir sentar sozinho em seu quarto. Em não conseguir estar só em seu próprio canto. Em sua própria casa. Sabe? Aquele casa interna? Aquele canto do si-mesmo? Esta imagem explora o que acontece quando um Ser tem que ficar sozinho, acompanhado apenas de si mesmo. De volta à própria casa.

Esta é uma obra pandêmica feita durante a quarentena no Brasil, Março 2020.



VAZIO NA QUARENTENA
Pintura acrílica sobre tela / 90 x 90cm / 2020.


Coisas surgem na escuridão. Mas e o que é a escuridão? Seria ela negra ou vermelha? Será que a escuridão pode trazer paixão? Esquentar o sangue? Aprendi que quando se senta em meditação, focada no mudaníssimo aqui-e-agora, pode subir uma Kundalini = força vital, a força da anti-depressão. Pode subir um vermelho pulsante. Que engendra mundos, criações, a vontade de gerar. Celebrações, festa, alegria é parte da criação. Criação que só pode nascer no escuro. O escuro que parece preto, mas é vermelho como o sangue da parede do ventre da mãe, que alimenta o embrião, que cresce em disparate. Uma vontade de viver em sua última potência. Morte e vida são intensas e dividem as mesmas costas, como uma moeda.

Nessa visão, a quarentena trouxe uma oportunidade, a de voltar pra casa. A casa que é, no fundo, o corpo. Lá surgem criações na criatura. E toda criação tem por termo (regra) crucial o vazio. Nada é criado onde está cheio. Um ventre há que estar vazio para que a semente germine. O lugar do quarto vazio é um jardim à espera de borboletas e uma distraída concentração.