SOBRE A EXPOSIÇÃO
Aqui se entremeiam Mente e Coração. Quem é quem nessas Trilhas? As estradas da mente; os caminhos do coração. Já se cruzaram? Será que um dia coração e mente se apaixonarão? Será que parirão, afinal, a paz? Um belo dia, falará a boca do que está cheio neste sonho chamado mente-coração? Esta é a vivência humana. Este é o eterno e mais antigo conflito: o caos e a ordem, a lua e o sol, o velho e o novo...
O que me conduziu neste trabalho não foi a razão, mas a intuição. Digo que a "Ciência é a arte da razão", e que a "Arte é a ciência da intuição". A intuição sendo um tipo de inteligência instintiva, do corpo. Dos impulsos que vêm antes, ou além do pensamento.
A decisão de acrescentar o vermelho veio depois que esgotei toda a minha vontade da cor preta. Ironicamente, a adição do vermelho — que representa o coração, o sangue, a emergência, o impulso sem pensar? a força vital, a kundalini, os chacras baixos, a paixão visceral, o que está vivo — terminou sendo um pouco planejada. E o preto, que aqui representa a mente — uma ferramenta de planejamento — foi espontâneo.
Isso me fala de como somos complexos: o que é espontâneo em nós? (ou seja, o que vem de dentro?) E o que é condicionado? (ou o que vem de fora? e foi sutilmente imposto quando ainda não tínhamos clara consciência de nós mesmos, em criança?).
Achamos que o que pensamos é nosso, é nossa verdade; e tantas vezes, condenamos nossos impulsos e intuição, chamando-os de loucura.
TÉCNICA
Este é um exercício com o "não planejamento" (ou caos), ou seja, com a participação mínima da mente pensante, abrindo a porta para o espontâneo. Imagine só... uma arquiteta fascinada pelo não-planejamento. Esta sou eu como artista.
Apenas duas matrizes foram utilizadas na produção desta coleção. Em uma (vermelhos), não fiz marcas de entalhe. Na outra (pretos), há o meu entalhe. O vermelho é o Coração, puro, simples, direto, imaculado, verdadeiro. O preto é a Mente, perdida em pensamentos, elucubrações, dúvidas e tramas neuróticas, fantasiosas e, por que não? até mesmo belas.
O linóleo naval que usei para entalhar não sofreu desenhos ou esboços iniciais. A matriz foi se formando no espontâneo do momento, do que quis o inconsciente. A impressão da matriz no papel japonês ocorreu da mesma forma: sem antecipação ou planos. A despeito disso, comecei a perceber uma narrativa se formando. Claro, tudo é história. O inconsciente é pura história.
As figuras que pode-se ver aqui e ali — um rosto, uma cidade, uma orla — foram, também, imagens que surgiram espontaneamente.